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RIO - Apesar do recente aperto do crédito na China e do esperado aumento da oferta, a Vale avalia que o preço do minério de ferro não deve cair “de forma sustentável” abaixo de US$ 110 em 2014, disse nesta quarta-feira o diretor de Ferrosos e Estratégia da Vale, José Carlos Martins. Para o executivo, o país “não tira o sono” da equipe da mineradora.

Recentemente, o governo chinês impôs medidas de restrição ao crédito, que têm afetado o setor de construção civil. Isso atinge diretamente o mercado de minério de ferro porque é matéria-prima para o aço, muito usado nesse setor.

Paralelamente, é esperado para este ano o início de novas minas de minério, principalmente da Austrália, o que deve elevar em cerca de cem milhões de toneladas a capacidade de produção mundial de minério de ferro. Segundo Martins, a maior parte do minério australiano é de baixa qualidade, que acaba sendo vendido a qualquer preço no mercado spot (à vista) chinês.

Como o minério comercializado na China se tornou referência de preços para o resto do mundo, o preço internacional do minério pode acabar baixando, o que afetaria o desempenho da Vale, já que este é o principal produto vendido pela empresa. Ainda assim, Martins não demonstrou preocupação.

— A oferta está aumentando subindo a escada, e a demanda está aumentando subindo a ladeira. Acredito que o excesso de oferta será pontual (...) . Não acredito que o preço da tonelada do minério caia abaixo de US$ 110 de forma sustentável. Quando digo sustentável, quero dizer por mais que três meses. Pode até haver alguma oscilação, mas isso será pontual — disse o executivo em teleconferência com analistas nesta manhã, um dia após a divulgação do resultado da companhia. — A China não nos tira o sono.

A cotação média do minério de ferro na China no quarto trimestre foi US$133,18 a tonelada, 11,5% mais alta que em igual trimestre de 2012. A previsão para a média de 2014 é de US$ 112,63, segundo projeções de Luiz Caetano, analista da Planner, com base em dados da Bolsa de Cingapura SGX, que negocia contratos de minério de ferro.

Alguns analistas veem a elevada dependência da Vale em relação à China com preocupação.

Durante a teleconferência, o presidente da Vale também demonstrou confiança no futuro da empresa e manteve a previsão de produção de 321 milhões de toneladas de minério de ferro em 2014, com a expansão das minas no Brasil. Em 2013m foram 299,7 milhões de toneladas.

Murilo também reafirmou que manterá a disciplina de gastos, que permitiu a empresa cortar despesas de R$ 3,5 bilhões em 2013. E que os desinvestimentos continuarão. Sua expectativa é que uma parceria com um novo parceiro seja firmada até o fim deste trimestre para venda de parte do corredor Nacala, corredor de escoamento do carvão de Moatize, em Moçambique.

— Vamos continuar com a mesma perspectiva de austeridade para reduzir o endividamento e fazer a distribuição de dividendos — disse o executivo.

A Vale registrou o maior prejuízo de sua história para um trimestre: perda de R$ 14,8 bilhões nos últimos três meses de 2013. No ano, o lucro líquido despencou 99%, para R$ 115 milhões.